sábado, 9 de abril de 2016



Monção (*)


A palavra monção, ao que parece, é de origem árabe e tornou-se parte do vocabulário português durante as viagens pelo Oriente. Eram ventos alternados que propiciavam a navegação às Índias. Na história colonial, monções também significavam época de navegação, mas esse deslocamento prescindia de ventos. O termo designava a navegação fluvial para o oeste, realizada pelos paulistas durante o século XVIII. Essa jornada empregava remos: necessitava de força física e não eólica. No entanto, Sérgio Buarque de Holanda destacou a existência de traços semelhantes entre as viagens oceânicas portuguesas a as fluviais dos paulistas: regularidade, periodicidade e duração. Todos os anos, nos meses de março a abril, as viagens para o Oriente coincidiam com as jornadas paulistas para Cuiabá, aproveitando as cheias dos rios e a facilidade de navegação. O trajeto entre Porto Feliz a Cuiabá consumia cerca de cinco meses, mesmo tempo da rota entre Portugal a India. As monções ocupam importante capítulo da história colonial, marcando a ampliação das fronteiras e a colonização do interior, constituindo um prolongamento das bandeiras paulistas. As primeiras monções para Cuiabá empregavam o mesmo contingente humano das bandeiras do século XVII, mas se iniciaram quando o bandeirantismo entrava em declínio. Sérgio Buarque destacou que as longas jornadas fluviais modificaram algumas características das bandeiras, diversificando os meios de locomoção a exigindo nova postura dos componentes. Se para os bandeirantes os rios eram obstáculos à marcha, nas monções eram a principal artéria de deslocamento, razão pela qual as técnicas fluviais alcançaram grande desenvolvimento entre os paulistas. Para tornar a jornada menos perigosa, formaram-se comboios que substituíram as unidades isoladas. Nos primeiros anos, muitos morreram nas monções por ataques indígenas, naufrágios a fome. Para que os navegantes, suprimentos a mercadorias fossem protegidos contra as intempéries do clima, as embarcações ganharam toldos de lona, brim ou baeta, sustentados por armação de madeira, a tornou-se recorrente o use de mosquiteiros. As técnicas de navegação se basearam nas tradições indígenas, mas eram empregadas toras maciças na construção de canoas, em vez de cascas de árvores, para torná-las mais resistentes a duradouras. Possuíam cerca de 13 metros de comprimento, contando com seis remeiros, piloto a proeiro, sendo as cargas dispostas no centro da embarcação. Com a descoberta de veios auríferos, intensificou-se o comércio na região. As frotas, então, reuniam por vezes 3 00 ou 400 canoas, que transportavam desde sal até artigos de luxos, como sedas, de modo que as monções se tornaram essenciais para o abastecimento das minas nos primeiros tempos, rivalizando em importância com o abastecimento terrestre à base de tropas de mulas a contribuindo para a formação de circuitos internos na economia colonial.

(*) "Dicionário do Brasil Colonial"  - Ronaldo Vainfas

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