Monção (*)
A palavra monção, ao
que parece, é de origem árabe e tornou-se parte do vocabulário português
durante as viagens pelo Oriente. Eram ventos alternados que propiciavam a
navegação às Índias. Na história colonial, monções também significavam época de
navegação, mas esse deslocamento prescindia de ventos. O termo designava a
navegação fluvial para o oeste, realizada pelos paulistas durante o século
XVIII. Essa jornada empregava remos: necessitava de força física e não eólica.
No entanto, Sérgio Buarque de Holanda destacou a existência de traços
semelhantes entre as viagens oceânicas portuguesas a as fluviais dos paulistas:
regularidade, periodicidade e duração. Todos os anos, nos meses de março a
abril, as viagens para o Oriente coincidiam com as jornadas paulistas para
Cuiabá, aproveitando as cheias dos rios e a facilidade de navegação. O trajeto
entre Porto Feliz a Cuiabá consumia cerca de cinco meses, mesmo tempo da rota
entre Portugal a India. As monções ocupam importante capítulo da história
colonial, marcando a ampliação das fronteiras e a colonização do interior,
constituindo um prolongamento das bandeiras paulistas. As primeiras monções
para Cuiabá empregavam o mesmo contingente humano das bandeiras do século XVII,
mas se iniciaram quando o bandeirantismo entrava em declínio. Sérgio Buarque
destacou que as longas jornadas fluviais modificaram algumas características
das bandeiras, diversificando os meios de locomoção a exigindo nova postura dos
componentes. Se para os bandeirantes os rios eram obstáculos à marcha, nas
monções eram a principal artéria de deslocamento, razão pela qual as
técnicas fluviais alcançaram grande desenvolvimento entre os paulistas.
Para tornar a jornada menos perigosa, formaram-se comboios que substituíram as
unidades isoladas. Nos primeiros anos, muitos morreram nas monções por ataques
indígenas, naufrágios a fome. Para que os navegantes, suprimentos a mercadorias
fossem protegidos contra as intempéries do clima, as embarcações ganharam
toldos de lona, brim ou baeta, sustentados por armação de madeira, a tornou-se
recorrente o use de mosquiteiros. As técnicas de navegação se basearam nas
tradições indígenas, mas eram empregadas toras maciças na construção de canoas,
em vez de cascas de árvores, para torná-las mais resistentes a duradouras.
Possuíam cerca de 13 metros de comprimento, contando com seis remeiros,
piloto a proeiro, sendo as cargas dispostas no centro da embarcação. Com a
descoberta de veios auríferos, intensificou-se o comércio na região. As frotas,
então, reuniam por vezes 3 00 ou 400 canoas, que transportavam desde sal até
artigos de luxos, como sedas, de modo que as monções se tornaram essenciais
para o abastecimento das minas nos primeiros tempos, rivalizando em importância
com o abastecimento terrestre à base de tropas de mulas a contribuindo para a
formação de circuitos internos na economia colonial.
(*) "Dicionário
do Brasil Colonial" - Ronaldo
Vainfas
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